terça-feira, 17 de maio de 2016

SINTO SAUDADE DAQUILO QUE NUNCA ACONTECEU

Adianto logo que será um texto confuso e a intenção é realmente essa. Porque saudade é algo pra lá de complexo. A começar pela palavra em si: não há tradução e só existe na Língua Portuguesa. Sou inimiga mortal da saudade convencional. Posso explicar isso bem direitinho utilizando o trecho de uma música muito conhecida: “E por falar em saudade onde anda você /Onde andam seus olhos que a gente não vê / Onde anda esse corpo que me deixou louco de tanto prazer?”. Uma definição perfeita! Só sentimos saudades daquilo que tivemos e não temos mais. Seja pela distância, pelo fim de um relacionamento ou até mesmo pela situação mais extrema: a morte. Nesse caso, a saudade é irreversível.  Em minha sã consciência, afirmo que não vejo razão para gostar desse tipo de sentimento que só se faz presente pela falta de um momento esplêndido, com um alguém memorável, mas que a vida com suas complicações acaba se encarregando de impossibilitar que tenhamos na hora que queremos e bem entendemos a satisfação desses momentos.
A saudade é tão impiedosa que é comum escutarmos: “Precisamos matar a saudade!”. Matar! Vejam que verbo mais cruel. Alguém que é bom do juízo pensa em matar alguém que se ama? Nem na última das hipóteses. Se fosse algo bom, o correto seria afirmar: “Precisamos viver essa saudade!”. Até se vive, mas nessa circunstância: na ausência do ser amado. Quando você cria um momento para “matar a saudade” e consegue ter em seus braços a razão criadora dela, ninguém diz assim: “Eu estou com saudades de você!”, porque a presença física mandou a saudade para longe e deu lugar para os abraços, amassos, prazeres. Agora sim, cheguei onde queria: Gosto da saudade morta!
Mas estou descobrindo outra face da saudade. E isso anda me surpreendendo, por ser algo diferente: Uma saudade daquilo que não tive ainda. É uma mistura de esperança com uma pontinha de certeza de que o momento que não vivi ainda vai acontecer. Isso é motivador. Alguém deve estar se perguntando assim: “E isso lá é saudade? Se não aconteceu ainda, pode ser ansiedade...”. Não deixa de ser também, é uma mistura. Entretanto não é aquele tipo de ansiedade que perturba, que inquieta, que tira o sono. É algo leve. Como Jorge Vercillo garante em uma de suas canções: “Só de pensar em você já me faz tanto bem”. É isso! Sinto esse tipo de sensação por um alguém que nunca foi meu. Dele tive apenas olhares, e, diga-se de passagem: que olhares! Diferentes dos que estou acostumada a ganhar por aí. Tem um quê de admiração, respeito, até de desejo, mas administrado da maneira mais sábia possível. Sinto saudade desse tipo de olhar que me faz bem e eu sei que terei de novo. Dele eu tive também um aperto de mão, diferente dos demais. Senti a energia positiva de quem me disse através de um simples toque que não deseja apenas assim como eu, ter uma pessoa para satisfazer desejos carnais e no outro dia: “Como é mesmo o nome daquela pessoa que estive ontem?”. Isso é algo tão normal na sociedade de hoje e eu não consigo entender o porquê dessa normalidade tão bem aceita. Ah, e o abraço? Sim, tivemos alguns, assim, bem breves, mas foi muito melhor que muito abraço hipocritamente bem demorado. Houve sinceridade no gesto.
Todos esses comportamentos que envolvem respeito (que é uma palavrinha que está entrando em extinção porque existem poucos exemplares da espécie dela no mundo) tornam claríssimo para mim que já conheço o sabor do beijo que nunca provei. E eu posso garantir mesmo sem provar que já gostei. E quero repetir! (Rsrs). Ou tornar realidade, para ser mais clara. Se isso é paixão, amor ou desejo eu não sei, tenho dúvidas, mas de uma coisa eu tenho certeza: É uma saudade daquilo que nunca aconteceu e dessa nova versão da saudade eu tenho algo a dizer: Ahhh, dessa eu adoro! E entenda quem puder...  



OBSERVAÇÃO: "Sinto saudade daquilo que nunca aconteceu" seria um poema, mas uma grande amiga chamada Sandra Silva, disse que não queria que eu escrevesse um poema com esse título porque eu seria muito técnica e metafórica, queria mais nitidez. Ser grande amiga de uma escritora tem essa vantagem de exigir o formato de um texto, rsrs. Dedico então esse texto para ela. Beijão para você, Sandrinha.

2 comentários:

  1. Preciso viver esta saudade que estou de você!!!!
    Adorei.

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  2. Vamos viver essa saudade no dia do seu aniversário! Está pertinho...
    Te amo, Karlota!

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