Ao acordar,
Maciel perguntou-me se eu gostaria de caminhar pela praia à tarde. Topei de
imediato, pois eu sabia que este programa estava longe de ser uma simples
caminhada, ele sempre acaba aprontando algo e eu adoro isso. Logo depois do almoço,
entramos no carro e começamos a procurar uma praia desconhecida para
explorarmos. De acordo com as nossas estimativas, caminhamos quilômetros.
Bem no meio desse
trajeto, tinha um hotel, mas não era um simples hotel... Paramos! Aquela
imponente construção chamou imediatamente a nossa atenção pelas condições que
se encontrava: Total abandono! Um prédio muito grande, três piscinas de luxo,
estátuas destruídas e jardins devastados. Algo impressionante. Maciel ficou
perplexo e eu ultrapassei esse estágio. O hotel havia sido depredado e
visivelmente saqueado. Pias e torneiras arrancadas, fiações elétricas roubadas
aos montes. As piscinas não possuíam mais nenhum azulejo, até eles foram
roubados!
Impulsivamente,
Maciel me puxava cada vez mais para dentro daquele hotel. Ele tinha em mente
observar a estrutura do prédio, porque vive construindo casas e constantemente
fotografa lugares que possam servir de modelo para uma de suas
casas. Sempre que estou com ele, eu assumo esse papel de fotógrafa. Nessa tarde
não foi diferente, registrei tudo o que achei proveitoso para ele. Olhamos
tudo. A suíte 310 me chamou atenção, mais do que as demais, embora todas elas
fossem exatamente iguais. O encantamento se deu pela localização, o banheiro
dessa suíte ficava de frente para o mar. Eu nunca tive a oportunidade de morar
em uma casa que fosse de frente para o mar e de repente me vejo em um banheiro,
o lugar quase sempre menos privilegiado de qualquer casa ou hotel, que tinha
uma maravilhosa vista para o mar. Senti-me pequena perante a vida. Tive um
pensamento ridículo: “Um banheiro de grã-fino é mais privilegiado em termo de
visão do que a minha própria casa?”. Aquela vista não saía de mim.
Excetuando
esse encantamento, o restante do hotel causava muito medo. Escuro, frio, muitos
morcegos, parecia cenário de filme de terror. A impressão que tive, era de que
a qualquer momento apareceria um drogado ou maníaco. O medo estava claramente
estampado em meu rosto. Uma sensação estranha, nunca sentida antes. Se eu
estivesse sozinha, não teria coragem de adentrar ali jamais, mas Maciel estava
comigo e isso me estimulava. Por um momento, olhei para ele e tive muita
vontade de propor algo, mas desisti. Estava escurecendo.
No caminho de
volta, conversávamos sobre a situação daquele hotel e eu me
perguntava incansavelmente: “Como um hotel tão imperioso ficou daquele jeito?”.
Quando chegamos em casa, tomamos banho, jantamos e deitamos. Foi na minha cama
que veio a seguinte confissão:
-Sabe, amor,
eu tive uma vontade absurda de fazer amor ali naquele hotel em ruínas.
-É sério isso?
-Muito sério.
Ainda pensei em te propor isso, mas desisti porque estava escurecendo.
-Não precisava
nem gastar suas palavras para me propor algo. Bastava apenas tirar sua roupa.
Eu entenderia.
-Tive medo que
entrasse alguém ali. Alguém disposto a fazer o mal.
-Essa parte aí
você deixou transparecer. Eu vi o pavor em teu rosto, menina. Não imaginei que
você estivesse com segundas intenções.
-Não consigo
lembrar de um dia que eu tenha sentido mais desejo do que hoje. Você promete me
levar lá novamente?
-Você sabe que
preciso viajar bem cedinho amanhã, mas eu prometo te levar lá na próxima vez
que vier para tua casa.
Nesse momento
ele me abraçou fortemente e disse: “Você não tem juízo, menina...”.
Passamos um
mês longe e durante esse tempo, apimentava minhas mensagens com cobranças do
tipo: “Não demore! Preciso te sentir naquele hotel em ruínas!”. Isso caía como
uma bomba nele, as respostas eram tentadoras e minha expectativa só crescia.
Numa
determinada noite, cansada depois de um dia de trabalho, recebi dele essa
mensagem enquanto eu já me preparava para dormir: “Chegarei amanhã para te
levar no nosso hotel. Me espere! Se prepare! Vou satisfazer sua louca fantasia,
garota maluca!”. Quase não consegui dormir! No dia seguinte, ele chegou,
coloquei o meu biquíni, uma canga e partimos para o nosso prazeroso hotel. O
relógio marcava 16h00 quando descemos do carro. O acesso não estava fácil.
Tinha um banhista solitário que se posicionava bem em frente ao hotel e via
claramente toda a nossa movimentação. O hotel ao lado estava em reforma e o
pedreiro também tinha notado a nossa presença.
Bem, eu estava
determinada. Eu queria satisfazer alguns desejos ali dentro e eu não sairia
enquanto não conseguisse isso. Já havia esperado um longo mês por esse momento.
Não tive dúvidas, dei uma de turista, peguei o meu celular e fiquei tirando
fotos, para dar a entender que estava apenas fotografando um velho e abandonado
hotel. Quando tudo parecia ter caído na normalidade e nós deixamos de ser
objetos da curiosidade alheia, eu me assustei ao ver que do hotel saía um homem
com um facão na mão: o vigilante!
-Macieeeel!!!!
Tem um vigia lá!!!!
-Calma! Você
me quer lá dentro, não quer? Eu te prometi isso. Vamos conseguir. Aja
naturalmente. Continue batendo suas fotos e ignore completamente a presença
daquele vigia.
Maciel
apressou o passo e chamou o vigilante. O meu coração acelerou, as pernas
tremeram e eu só tinha vontade de perguntar: “Você enlouqueceu?”. Na minha
cabeça só passava a ideia que ele compraria de alguma maneira aquele camarada,
que ofereceria algum dinheiro ou algo parecido. Eu olhava para aquele homem
com um facão na mão e tinha muito medo, mas curiosamente, eu não tinha vontade
de voltar para casa. Queria ir para a suíte 310. Mas como? Meus pensamentos
estavam velozes em busca de uma solução e sabia que o mesmo acontecia com
Maciel.
Maciel, com a maior
naturalidade que se possa imaginar, chamou o vigilante, o convidou para sentar
e começou a conversar sobre o estado de abandono que estava aquele hotel. Esse
papo era um bom começo, mas eu sabia que ainda não era o suficiente para que
tivéssemos a entrada permitida. Então, eu comecei a colocar a minha imaginação
para funcionar e saí com essa conversa para o vigilante:
-É
verdadeiramente impressionante o estado desse hotel. Já nos hospedamos aqui, no
período de alta estação, ele estava lotado e cheio de vida. Hoje, ao passar por
aqui depois de anos, fiquei perplexa com o que vejo agora.
-É moça, hoje
eu sou vigilante, mas eu trabalhava como garçom por aqui enquanto ele estava em
plena atividade. Ainda não me acostumei, ainda me impressiono. Sinto saudade
daquela época.
-Será que você
permite que eu reviva os momentos que tive por aqui? Será que me deixaria olhar esse hotel por dentro?
-Claro! Fique
à vontade.
Eu sabia que
ele ficaria nos seguindo, isso era esperado, mas eu estava tomando o tempo
dele. Sabia que ele teria que ir embora mais cedo ou mais tarde. E comecei a
colher “singelas” informações que me diriam muito sobre a maneira de como eu
deveria proceder para que aquele vigilante não desconfiasse que eu estava querendo alguns momentos íntimos no hotel que ele era pago para guardar.
Continuei o papo:
-Ao chegar
aqui não imaginei que tivesse um vigilante. Vi um abandono tão grande...
-É porque faz
oito meses que não me pagam, então eu venho uma vez perdida. Já coloquei
inclusive os sócios desse hotel na Justiça.
-Então você
não passa à noite por aqui?
-Não! Fico
somente até o finalzinho da tarde e depois vou para casa.
Bem, a tarde
já estava findando. Comecei a me animar. Ele pareceu gostar da nossa companhia
e ficou o tempo inteiro contando histórias antigas sobre o hotel e mostrando
algumas suítes. Com pouco tempo, o telefone dele tocou. Acredito intimamente
que era uma namorada, ele estava muito sorridente e dizia o tempo inteiro:
“Chego já!”. Bingo! Essa mulher caiu do céu. Os ventos sopravam positivamente.
Eu sabia que depois do telefonema ele havia ficado muito empolgado para ir para
casa. Então, essa foi para mim a hora do xeque-mate. Ele ia sair, mas eu
precisava pensar rápido e ter um bom motivo para dar para ele e poder
permanecer naquele hotel após a sua saída. Então:
-Amigo, muito
obrigada pela tua atenção. Percebi pelo teor do telefonema que alguém te
espera. Não se atrase por nossa causa. Eu gostaria apenas de pedir tua
autorização para visitar uma suíte, a 310. Foi nela que nos hospedamos na
última vez que estivemos aqui. Você permite? Seremos rápidos, apenas o tempo de
algumas fotos. Quero uma lembrança daqui.
-Ah, claro! A
suíte 310 fica no final desse corredor, podem ficar à vontade. Mas adianto que
ela está suja, vocês estão vendo que o hotel está abandonado, né?
-Sei
perfeitamente onde fica essa suíte e não se preocupe. Não iremos demorar, como
já falei, é apenas o tempo de umas fotos para guardar como lembrança. Será que
existe na suíte 310 algo singelo que eu possa levar para mim para que de vez em
quando eu possa provar para mim mesma que estive aqui?
-Acho que não.
Esse hotel já foi completamente saqueado. Ah, espera um pouco! Tem um quadro
que eu guardei aqui na recepção. Veja se gosta, se gostar, é seu.
-É lindo!
-Pode levar
como lembrança então.
-Obrigada! Mas
eu queria mesmo era algo lá da suíte 310.
-Se encontrar
algo que te agrade, pode levar.
-Ei, sabia que
eu sou escritora? Vou escrever sobre a história desse hotel, vou fazer de você
um personagem e vou publicar tudo isso em meu próximo livro.
Ele saiu
radiante de felicidade. Acreditou na minha conversa. Peguei o quadro,
encostei-o na parede e enquanto o vigilante tomava o rumo de casa, eu corria
com Maciel como dois adolescentes pelos corredores daquele hotel macabro. O
desejo incalculável que eu sentia, deu lugar também para um medo grandioso.
Embora eu nutrisse em mim a esperança de que tinha conquistado a confiança
daquele homem, eu não parava de pensar nele. Imaginava aquele homem entrando
com aquele facão na suíte 310 e cometendo atrocidades comigo. Foi uma sensação
muito angustiante. Maciel sentia o mesmo, me confessou isso depois que saímos
de lá, mas no momento em si, não demonstrou nada disso. Abriu com violência a
porta da suíte. Me puxou com voracidade pelo braço e me arrastou para o
banheiro. Me empurrou contra a janela e disse em tom de autoritário:
-É essa visão
do mar que você quer, não é? Contemple-a!
-Amor, estou
com medo! Ele sabe que estamos aqui!
-Calada! Faz
um mês que você me provoca! Quer correr agora? Vai não!
Arrancou minha
canga com gestos de mestre no assunto. O biquíni ele conseguiu rasgar. Nem se
eu quisesse impedi-lo, não conseguiria. Fez o excelente uso da força masculina.
Estava agressivo e cheio de desejo. Essa mistura provocou em mim uma sensação
única. Gostei de cada primitivismo que aconteceu naquela suíte de hotel. O
momento não era propício para preliminares demoradas, o medo castigava.
Alcançamos o prazer em tempo recorde e de maneira intensa. Me vesti
apressadamente, peguei a placa da suíte, de madeira, com o número 310, o
quadro que ganhei do vigilante e saímos correndo daquele hotel repleto de energias. Ao chegar no carro,
a queda da ficha. Maciel bombardeou-me demais:
-Você é louca!
Você não tem um pingo de juízo! Isso é praticamente um suicídio, menina! Você
reparou no tamanho do facão daquele cara? Você pensou na possibilidade de ele
voltar? Sabe o que ele faria com você, não sabe? E depois, poderia até nos matar!
Você é louca! Muito louca!
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