domingo, 1 de maio de 2016

O QUE A BEBIDA NÃO FIZER, EU FAÇO!

Quando saímos da reserva ecológica, vínhamos combinando no carro que quando chegássemos em casa, só nos restaria dormir, estávamos muito cansados. Eu tinha viajado para encontrá-lo, fomos procurar a muda da árvore de ipê-roxo e nos amamos na trilha, debaixo de um sol que castigava. Estávamos querendo descansar mesmo. Só que a naturalidade de uma mulher chega a ser uma arma. Quando chegamos ao quarto, Maciel deitou na cama, ligou a televisão e me chamou para deitar também. Respondi que me esperasse só um pouco porque eu precisava de um banho.
Como o meu corpo nu não é novidade alguma para ele, comecei tirando a roupa no quarto mesmo, depois disso, atravessei-o para pegar a minha escova de dentes que estava dentro da minha bolsa, em cima da cama. Nesse instante, ele parou de prestar atenção na televisão. Perguntei bem séria: -O que foi, amor? Por que me olha como se nunca tivesse me visto sem roupa antes? Por que tirou a sua atenção da televisão?
-Vai nada!
-Você ainda pergunta? Normalmente, as mulheres quando vão tomar banho, tiram a roupa no banheiro. Você não, desde hoje que desfila pra lá e pra cá, peladona, com a maior naturalidade desse mundo, acha pouco, me atravessa na cama, vai lá, vem cá. Não tem televisão nesse mundo que prenda minha atenção desse jeito. -O “desfile” não foi intencional. Não fiz para te provocar. Eu só estava realmente me preparando para meu banho. -Agora você não vai tomar banho mais não! Me puxou para a cama. -Amor, eu preciso tomar banho. Estou com muito calor. -Vamos fazer um trato? -Acho que não vou aceitar, mas diga. -Você me fala qual é a sua fantasia, me deixa tomar banho e logo em seguida, eu já venho pronta para o ataque.
-Vai tomar whisky? Que novidade é essa? Você detesta whisky.
-A proposta é bem interessante. -Pode começar a dizer o que quer. Bem, eu não imaginava jamais que ele seria tão “criativo”. Minha reação foi: -Hã? Sério? Imaginei que fosse me pedir isso, mas não me passava pela cabeça a possibilidade de que seria de uma maneira tão intensa. De onde você tirou essa ousadia toda? -Pediu a minha fantasia, não pediu? -É, pedi... -Agora eu que ordeno: Vá tomar seu banho e volte pronta para o ataque! -Poxa, me ferrei! Não tinha muita alternativa, eu havia dado a minha palavra e ainda havia desafiado, restava-me apenas encarar. Fui tomar banho. Quando saí, ele me olhou sorrindo. -Tá pensando que eu vou correr, né? Tá enganado. Vamos, passe esse whisky pra cá.
-Entra! Sua fantasia vai entrar! Espere só um pouco. Deixa esse danado desse whisky me pegar primeiro.
-Whisky é para mim simplesmente intragável, mas, como dizem que a bebida dá coragem e coragem é tudo que eu preciso nesse momento, então, que venha o whisky! Eu sou uma criatura que bebe lá uma vez perdida, mas inacreditavelmente, tenho uma forte resistência ao álcool. A bebida não me pega fácil. Comecei a tragar o intragável. A cada gole, um arrepio e uma careta. Maciel só fazia rir, no fundo, acredito que ele achava que eu correria (eu também). Entre uma dose e outra, eu brincava com o desejo dele. Carícias e mais carícias. Ele nem parecia que tinha passado uma tarde inteira de amor, estava com o fogo de um adolescente. E me cobrava: -Vamos, minha garota... Quanto mistério! Como é: Sai ou não sai? -E eu te pego em segundo? -É bem por aí (respondi sorrindo).
Outra criatura em meu lugar, jamais teria coragem de confessar o que aconteceu, mas, esse tipo de coisa acontece nas melhores famílias. Eu só sei que só lembro que ao sair do banheiro, cheguei toda empolgada no quarto preparando ele: “Pronto! Estou pronta!”. Lembro ainda que ele veio todo amável até mim, demonstrando muito carinho pelo fato de eu ter tomado meio litro de uma bebida que ele sabe bem que não suporto, para obter a coragem necessária para satisfazê-lo. Depois disso, não lembro de mais nada. O whisky foi implacável com a minha memória.
Eu só sei que nessa brincadeirinha, tomei meio litro de whisky, sozinha. E essa bebida achou de me pegar de vez! Bateu um calor, a cabeça girou, o suor pingou. Levantei. -Vai pra onde?

-Tomar banho. -De novo? Quantos banhos você pretende tomar essa noite? -Menino, esse whisky me esquentou de um jeito, estou sentindo um calor infernal e com vontade de sair correndo nua pelo meio da rua. -Ótimo! Agora acredito que você esteja no ponto. -Volto já, depois do banho você vai ver só... Sempre tive o hábito de acordar cedo. Ao acordar, comecei a dar um monte de cheiros nele, fiz massagens nas costas, ele estava todo manhoso. Depois cheguei ao ouvido dele e falei:
-Amor, acorda! Estou curiosa. Me fala: Como foi que sentimos prazer ontem? Eu não lembro de nada! Esse negócio de beber e no outro dia não lembrar do que fez é ruim demais. Vai amor, acorda logo!
-Direito de cafajeste, se eu tivesse feito algo com você naquele estado. Garota, sabe aquela contorcionista de circo, que fica vestida de boneca de pano, e o camarada a tira de dentro de uma mala, a joga para um lado, para o outro e ela fica toda mole? Pronto, você estava mais ou menos daquele jeito.
Com um carinho imenso na voz e muita compreensão ele começou a relatar:
-Meu anjo, você nunca poderá lembrar daquilo que não fez. -Como assim? -Quando você terminou de tomar seu banho e disse estar pronta, você deitou na cama e caiu num sono profundo. -Deixa de conversa, menino! Só porque eu não lembro de nada, você me sai com uma dessa? -Mas eu estou falando sério. -E você fez o quê comigo? Realizou sua fantasia enquanto eu dormia? -Lógico que não. Até parece que você não me conhece. Eu apenas peguei o lençol, te cobri, te abracei e dormi cheio de desejos. -Mas você podia fazer o que quisesse. Enquanto o whisky não tinha feito efeito ainda, eu já havia autorizado que você se realizasse em mim, lembra? Então, você estava em seu direito. -É sério que eu corri da parada? Isso nunca me aconteceu antes. -Você tentou cumprir sua palavra, mas dormiu que roncou.
Muito surpreso mesmo, ele veio com gosto de gás. Mais surpreso ainda ficou, quando viu que eu cumpri a minha palavra, realizando a sinistra fantasia dele. Depois da satisfação, a alfinetada:
-Rapaz, fiquei decepcionada com a propaganda enganosa da bebida. Dizem que o que a bebida não consegue fazer, ninguém consegue. Como se explica o fato de eu ter bebido quase meio litro de whisky e ter corrido da raia? -É, a bebida em você fez efeito contrário. Eu estava curioso para saber como você se comportaria enquanto estivesse bêbada, mas você só conseguiu encontrar o caminho dos sonhos. -Mas, nem tudo está perdido, meu amor. -O que está querendo me dizer? -O efeito do whisky já se foi. -Depois de meio litro, jura que não está sentindo nem uma dorzinha na cabeça? -Nada! Estou nova! E a lembrança de que te prometi ontem de realizar a sua fantasia, está muito nítida em mim. -Eu não estou nem acreditando no que você está insinuando. -É bom começar a acreditar, porque agora mesmo, vou cumprir a minha palavra. -E a coragem que te faltava ontem? -Está me sobrando agora. Venha quente!

-Meu anjo, continue sem beber. Você não precisa desse recurso porque é deliciosa assim mesmo, naturalmente. A naturalidade é o teu maior encanto...
-Garota, vou morrer sem te entender. Ontem você estava cheia de medos, recorrendo ao whisky para obter coragem, hoje, sem efeitos alcoólicos, estava com uma desenvoltura incrível. Você tem dupla personalidade?
-Não. Apenas fiz o que a bebida não foi capaz de fazer.

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