sábado, 25 de junho de 2016

O TIRO

Minha mãe precisava de uma pessoa para ajudá-la nos afazeres domésticos. Iniciou-se então uma busca. Uma conhecida dela, recomendou muitíssimo bem uma figura muito exótica. Para começo de conversa, ela costumava lavar os pratos do jantar durante a exibição do Jornal Nacional, de maneira apressada e vez por outra ia à sala perguntar se já tinha passado o “temporal” (previsão do tempo).
Certa vez, mainha perguntou-lhe o porquê dela se preocupar tanto com o “temporal”, afinal ela nunca parava seus afazeres para assistir a este telejornal. Ela explicou-lhe e “muito bem explicado” o seguinte: “Sabe o que é patroa? É porque quando passa o ‘temporal’, já está perto de terminar o jornal e eu não posso perder a novela”. Isso já caracteriza bem o tipo da figura.
Um belo dia, enquanto ela preparava o jantar, mainha descansava um pouco em seu quarto. Um detalhe interessante, é que só tinham elas duas dentro de casa e de repente, mainha ouviu um forte estampido: “Peeeeeeeei!!!!!!!!”. Ela levantou-se apressadamente para se apropriar do que havia acontecido. Ao chegar à sala, a figura começou a gritar:
-Foi um tiro! Foi um tiro! Foi um tiroooo!!!!!
-Um tiro? – Perguntou mainha assustada.
-Sim, e foi aqui na sala!
E continuou dizendo com toda a certeza desse mundo, apontando para o sofá:
-Foi exatamente aqui o tiro!
-Mainha olhava para o sofá e não via nenhum furo de bala, nem tampouco na parede. E continuou a perguntar:
        -Cadê a bala?       
Ela alteradamente, repetia:
-Foi um tiro! Não sei da bala, mas foi aqui, foi aqui...
Mainha foi lá na janela, olhou, tudo muito calmo lá fora. Não se ouvia gritos, nem tumultos, tudo muito normal. Por sinal, morávamos num bairro bem tranquilo (Jardim Atlântico, Olinda). Logo minha mãe começou a acalmá-la, tentando mostrar-lhe que não havia nada que comprovasse o suposto "tiro". Conversou com ela e pediu-lhe que fosse comprar o pão, na perspectiva de afastá-la um pouco do ambiente para que pudesse perceber que lá fora tudo corria maravilhosamente bem.
Enquanto isso, mainha começou a organizar a mesa para o jantar. Ao dirigir-se ao fogão, pôde observar que o tão comentado “tiro” tinha saído exatamente de lá, pois o prato que a mesma preparara a massa do cuscuz, amarrado a um pano, não suportara a temperatura e espatifou-se por completo causando o estrondo que a moça assustada havia sentido “ao lado do sofá”. Resultado: o cuscuz estava completamente recheado com pedacinhos de porcelana: Uma iguaria ímpar.
Em seguida, a “sensitiva” voltou da padaria tranquila e mainha resolveu dar continuidade ao papo do tiro:
-Descobri tudo sobre o tiro!
-Tá vendo?! Eu não disse?! Eu tinha certeza que tinha sido um tiro, eu conheço tiro de longe, lá onde eu moro tem tiroteio direto. A minha sorte é que todo mundo lá é meu amigo. Sou muito respeitada, se não fosse isso...
-Ahhh, quer dizer que você conhece tiro de longe? Pois dessa vez, você não conheceu nem de perto! Venha cá para eu lhe mostrar de onde saiu o tiro.
E mainha apontou-lhe o fogão, o cuscuz e o prato.

-Tá, dona Keyla, eu já vi tiro de tudo quanto é jeito, mas essa é a primeira vez que eu vejo um tiro sair de um cuscuz! 

4 comentários:

  1. Kkkkkk essa foi demais kkkkkkk Adoro seus textos Syl principalmente qd minha frô é a estrela kkkkkk

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  2. Kkkkkk essa foi demais kkkkkkk Adoro seus textos Syl principalmente qd minha frô é a estrela kkkkkk

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  3. Obrigada, minha "Frô". Amamos você! Um beijão de Sylvinha e Keyla.
    Em tempo: Aguarde os próximos textos... rsrs.

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  4. Obrigada, minha "Frô". Amamos você! Um beijão de Sylvinha e Keyla.
    Em tempo: Aguarde os próximos textos... rsrs.

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